Introdução
Qualquer actividade SOTA será tanto melhor como o planeamento que dela se fizer.
O tempo gasto no planeamento NUNCA é tempo perdido e recupera-se, “com juros” durante a activação.
Claro que os cumes SOTA aos quais vamos regularmente não precisam de grande planeamento, mas mesmo assim, é sempre necessário algum planeamento!
Aqui aborda-se apenas as Activações mas o planeamento é, também, válido para os Caçadores, circunstância que se abordará numa próxima oportunidade.
Primeiros passos
O primeiro passo é escolher o cume SOTA que se vai activar, sabendo que, por vezes, existe a dúvida e entre uma série deles.
Para a escolha do cume “certo” para aquele dia há que ter em conta :
- Escolher o cume SOTA
- Abordagem ao cume SOTA
- O tempo disponível;
- A meteorologia;
- A orografia do local e acessibilidades;
- As bandas e modos que queremos utilizar;
- Outros factores contingentes;
- Ida da XYL ou de acompanhantes;
- Custo;
- Resiliência do próprio e condição física;
- Equipamento disponível.
- Spots e alertas
1 – Escolher o cume
Das duas uma: Ou já se sabe o cume SOTA que se vai activar ou queremos escolher um.
No primeiro caso está resolvido.
No segundo caso, podemos recorrer a várias ferramentas que adiante se descrevem.
Em qualquer dos casos, há que verificar se o cume SOTA está integrado num Área Protegida, Reserva, Parque Natural ou Paisagem Protegida e, consultando as condições de acesso, saber se é exequível a activação na data e condições pretendidas.
Sugere-se que o Activador, caso o cume SOTA se encontre numa Área Protegida, Reserva, Parque Natural ou Paisagem Protegida, envie um email antes de tentar fazer a activação, podendo para isso usar o email que está imediatamente abaixo da entidade gestora da área, na nossa página “Actividades SOTA em Áreas Protegidas – Parques, reservas, paisagens protegidas e monumentos naturais“, como se pode ver na imagem seguinte:
a – Mapping SOTA
O mapping do site SOTA tem uma excelente ferramenta que pode ajudar.
Trata-se do Range onde se pode verificar quais os pontos SOTA que existem, de 2 formas:
– Num círculo de x km a partir de uma localização
– x km para cada lado de uma estrada
b – Google Earth
A partir da altura em que se têm as referências SOTA (descarregar aqui) no Google Earth e utilizando
- A função “Obter direções”
- Obtém-se o trajecto entre dois pontos
- a função para medir “Régua” e depois círculo
- Obtém-se um circulo que identifica os ponto SOTA que estão aquém dessa distância
c – Por conhecimento
Este método só funciona bem se conhecermos mesmo os locais…
2 – Abordagem ao cume SOTA
Nesta fase do planeamento é necessário saber quanto tempo disponível tem o activador.
2.1- Tempo
O tempo total gasto é a soma de:
Tempo de trajecto (1) + Tempo de subida (2) + Montagem (3) + Tempo de activação (4) + Desmontagem (5) + Tempo de descida (6) + tempo de trajecto (1)
É de notar que condições meteo mais adversas fazem subir os tempos 2, 3, 5 e 6.
O único tempo que o Activador controla é o Tempo de Activação (4)!
2.2 – Meteorologia
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) dá indicações muito precisas sobre a meteo prevista nos diferentes concelhos de Portugal.
Por exemplo, a meteo prevista em Ponte de Lima para os próximos dias é
Este conhecimento permite-nos, em função da nossa experiência, equipamento, vontade, etc, validar a possível activação de um cume SOTA.
Se há alguns que fazem activações debaixo de tempo mais adverso, há outros que apenas o fazem quando as condições são boas.
Isso não tem nada de mais, lembrando que a segurança deve sempre estar em primeiro lugar! 🙂
2.3 – A orografia do local e acessibilidades
Estudar bem a orografia de um local que ainda não se conhece é um factor que contribui para o sucesso de uma activação.
Antes de mais, deve verificar-se no Track do mapping do site SOTA se já existe algum caminho marcado.
Por exemplo, em CT/BL-002, Serra da Lousã, pode ver-se uma descrição do acesso, feito pelo autor deste artigo e a marcação do caminho sobre a carta (ou sobre imagem de satélite, se assim se escolher).
Adicionalmente, podem usar-se outras fontes de informação, designadamente o Google Earth ou o mapping do site SOTA, conjugando um destes com sistema de informação geográfica (SIG) do Centro de Informação Geoespacial do Exército.
Ou seja, podemos e devemos utilizar todas as fontes de informação que estão disponíveis.
Não esquecer que o Google Earth, quando se utiliza a função “Régua” pode dar-nos também o perfil do terreno, ou seja, a distância horizontal e vertical que temos de percorrer.
Para quem usa GPS, esta é a altura de importar para o GPS as coordenadas do ponto ou introduzir estas no dispostivo!
No caso dos pontos situados em Parques Naturais, a consulta dos sites pode, também, fornecer informações relevantes.
2.4 – As bandas e modos
A adequada escolha das bandas e modos pode garantir o sucesso da activação, isto é, os necessários 4 QSOs!
Com efeito, quem se desloque para locais razoavelmente “desertos de radioamadores” não pode esperar que apenas um portátil de VHF seja suficiente para fazer os 4 QSOs necessários.
Mas, mesmo que leve um equipamento de HF, é boa ideia consultar as cartas de propagação para validar a sua escolha de banda/modo/equipamento TRX:
que depois nos dá:
Ainda assim, as possibilidades de sucesso (e carregando menos peso…) utilizando CW são maiores em HF e muito menores em VHF e UHF.
Aliás, é essa a razão pela qual a maioria dos QSOs SOTA são neste modo!
Contudo, se a referência SOTA estiver nas imediações de uma grande cidade (Lisboa ou Porto, por exemplo), as possibilidades fazer os 4 QSOs empregando VHF ou UHF, em FM, são grandes.
O autor destas linhas, por exemplo, tem como equipamento mínimo um TRX de 20/30/40m, CW, cujo conjunto pesa menos de 1 kg.
Já activou cumes SOTA nos Açores e no Continente mas a primeira vez que não conseguiu os 4 QSOs para pontuar foi em CT/BL-020, Serra da Pena de Águia, quando utilizou um portátil de VHF/FM e UHF/FM emprestado por um colega…
Lição aprendida!
2.5 – Outros factores contingentes
Os factores contingentes são aqueles que podem, também, modificar a escolha da actividade num dia determinado e num cume escolhido.
São factores a ter em atenção e podem ser mais extensos que os aqui apresentados.
2.5.1 – Ida da XYL ou de acompanhantes
A ida da XYL, dos “cristais” ou de outros acompanhantes podem modificar o perfil da actividade.
Com efeito, não é razoável que se leve alguém para um passeio e depois o faça esperar sentado, num cume, enquanto o OM se regala com 3 horas de QSOs…
Isto leva, inevitavelmente, a que em próximas ocasiões não queiram acompanhar-nos. 😦
Como em tudo, moderação e bom-senso são necessários, especialmente quando queremos cativar pessoas para o radioamadorismo, em geral, e para o SOTA, em particular!
E a segurança deve estar em primeiro lugar!
2.5.2 – Custo
As deslocações – combustível, portagens, desgaste, etc, a alimentação, o alojamento, o equipamento, etc, têm um custo que, por vezes, não é negligenciável.
Embora as activações SOTA tendam a, regra geral, rentabilizar o “investimento”, é conveniente fazer contas antes de passar à parte prática da activação…
Podem acontecer algumas surpresas e nunca se deve esquecer que a vida do dia-a-dia tem de continuar…
2.5.3 – Resiliência do próprio e condição física
Este é um aspecto importante nas activações SOTA, especialmente naquelas activações com acessibilidades mais difíceis e durante condições meteo adversas.
Note-se que o excessivo calor ou radiação, no pino do Verão, pode ser considerado uma condição meteo adversa!
Activar um ponto SOTA com acessos por automóvel até 100 m do cume é uma coisa:
Activar um ponto onde se tenha que subir a pé durante 3 horas é outra completamente diferente!
O compromisso entre a resiliência – ou vontade de apanhar ar puro… – e a condição física do Activador é uma linha que baliza o tipo de referências SOTA que se querem activar, tendo por base a meteorologia e orografia.
2. 5. 4 – Equipamento disponível
O equipamento disponível de comunicações condiciona as bandas e modos possíveis.
Mas disso, todos os radioamadores estão cientes.
Contudo, mais que o equipamento de comunicações, é o equipamento individual que modela as possibilidades de fazer uma activação.
Inverno
Em condições de neve e/ou chuva e/ou vento frio é importante manter-se seco e quente. Para isso, são necessárias botas, meias de caminhada, camada intermédia, luvas, casaco e calças adequadas.
Quando há sol e neve, são essenciais, também, óculos adequados
Um bastão de caminhada é algo que, não sendo essencial, também serve para múltiplos propósitos, proporcionando apoio nas partes mais difíceis da caminhada.
Ou seja, necessita-se de equipamento – diria de protecção individual, vulgo EPI – para além de um abrigo.
Há uma enorme diferença entre quando se está em movimento e quando se está parado num cume a fazer contactos.
Por isso, muitos colegas levam sempre uma t-shirt ou algo similar para mudar quando chegam ao cume.
De igual forma, para os colegas que fazem CW ou digitais faz todo o sentido ter umas luvas mais finas, diferentes das “luva de caminhada”, que permitam a manipulação da chave de morse ou de um teclado.
Há uma enorme diferença, nesta altura do ano e sempre que existem condições invernosas, entre ter e não ter o equipamento adequado!
Nalguns casos, pode mesmo ser a diferença entre a segurança e o risco!
Verão
No tempo quente e seco, as preocupações têm de estar viradas para outras circunstâncias: As insolações, as desidratações e as queimaduras solares.
Assim, os EPI são o chapéu e as coberturas para fazer sombra, as roupas arejadas, a hidratação e o protector solar.
Verão e Inverno
A desidratação e a insolação, no Verão, tal como a hipotermia, no Inverno, são maldosamente silenciosos e podem causar muito sofrimento e, em casos mais graves, a morte.
A prevenção destes riscos é essencial e deve estar acima de quaisquer outras considerações!
3 – Spots e alertas
Uma das características da actividade SOTA é o facto de, no SOTAWatch , ser possível alertar (alert) para as activações que vamos fazer e, quando estamos no cume, informar de que lá estamos e que frequências estamos a usar (spot).
Embora o SOTAWatch seja o site mais universal, é óbvio que se pode sempre anunciar qualquer outro lugar, no Facebook ou num forum (ARLA/Cluster, CT-Comunicacoes e tecnologias, etc).
Uma das vantagens do SOTA, que joga contra um significativo número de factores que jogam contra o Activador, é permitir ter os Caçadores atentos a uma frequência e modo, num determinado momento, melhorando as possibilidades de fazer QSOs.
Tal como se pode ver nas FAQ’s, um alert é uma previsão que indica que um radioamador irá fazer uma activação num determinado cume (CT/DL-003), numa determinada data e hora (10/12/2014 15h30), usando uma ou várias frequências ou bandas e modos (7-cw, 14-ssb, 2-fm).
Também como se pode ver nas FAQ’s, um spot informa que um radioamador está fazer uma activação num determinado cume (CT/DL-003), naquele momento, usando uma frequências e modo (7,031, CW).
É factual: Está a acontecer!
O spot pode ser colocado por:
- Activador
- utilizando internet (app ou site) no telefone ou por SMS
- Outro radioamador que escute ou contacte com o activador
- No site Sotawacth
- Utilizando APRS
- RBNhole
- Automaticamente (apenas para CW, RTTY e BPSK)
As últimas duas hipóteses, são muito úteis quando não há rede móvel no cume SOTA que estamos a activar.
Conclusões
O nível de planeamento e o planeamento desejável são feitos em função das necessidades de cada Activador.
Não há uma única forma de planear e, por isso, expuseram-se os diferentes vectores de planeamento possível e mostraram-se as diferentes ferramentas.
Contudo, hoje em dia, falar de ferramentas é algo muito subjectivo porque as todos os dias há algo de novo na internet que pode ajudar a este propósito.
Daí que o que aqui foi mostrado não é, seguramente, exaustivo.
A única certeza é que o planeamento de uma Activação é algo importante, sobretudo quando se activam referências que se não conhecem.
O tempo gasto no planeamento é-nos devolvido na Activação, sob a forma de sucesso!
Pedro, CT1DBS/CU3HF